RESUMO EXPANDIDO - SENSIBILIDADE CULTURAL EM TERRITÓRIOS TURÍSTICOS COM CONFLITOS AMBIENTAIS: DESAFIOS EM BRUMADINHO/MG
Palavras-chave:
Turismo de Base Comunitária, Mineração, Conflitos Ambientais, Regeneração;, BrumadinhoResumo
Brumadinho está localizado no Estado de Minas Gerais/Brasil e, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atualmente o município possui uma população estimada em 41.208 habitantes. A cidade está inserida na mesorregião metropolitana de Belo Horizonte, e possui um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,747, considerado relativamente alto (Coelho, 2017). Brumadinho compreende em seu território múltiplas riquezas naturais e diversidades culturais e é considerado um dos municípios mais importantes do Estado de Minas Gerais.
A cidade é reconhecida nacionalmente e internacionalmente como um polo de turismo, em decorrência do Museu Inhotim (Centro de Arte Contemporânea). Existe também uma rede de pousadas situadas no alto das serras, onde estão localizadas as principais cachoeiras, trilhas e paisagens naturais do município. Além disso, a zona rural do município possui uma multiplicidade de comunidades tradicionais, tais como produtores rurais, comunidades quilombolas, ribeirinhos e povos indígenas. Mesmo sendo popularmente conhecida pelos atrativos turísticos, Brumadinho é um município dependente economicamente da mineração, logo, o município é marcado por profundas desigualdades, de grande extensão territorial, equivalente a duas vezes e meio a extensão da capital mineira, Belo Horizonte, e se viu atravessado no pós-evento de ruptura da barragem da Mina Córrego do Feijão, em 2019, por uma série de organizações que até então não estavam presentes e/ou atuantes no território. Instalou-se a partir daí o que podemos chamar de Indústria da Regeneração.
Com base nessa realidade, a questão norteadora do presente estudo está ligada à “compreensão dos desafios para a construção de processos de regeneração do território no campo do turismo que sejam protagonizados pelas comunidades”.
2 OBJETIVO
Na discussão deste estudo, o foco é a análise dos desafios para a promoção de roteiros turísticos capazes de gerar empatia e envolvimento entre turistas e comunidades de Brumadinho, de forma a mitigar violações de direitos e fortalecer as lutas por justiça, reparação de danos e regeneração do território.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
No Brasil, o turismo de base comunitária tem composto o arcabouço de políticas públicas do Ministério do Turismo em conjunto com Ministério do Desenvolvimento Regional como estratégia para desenvolvimento do interior e de alternativa à geração de renda e emprego das localidades (MDR, 2023). O modelo praticado no Brasil contribui para o enfrentamento das necessidades de conservação ambiental e valorização cultural, apresentando ao mundo a diversidade de ‘Brasis’, que nem todos conhecem (Teixeira, Vieira e Mayr, 2019).
Tratado por vezes como sinônimo de Ecoturismo, Turismo Sustentável e/ou Turismo Rural, o TBC surge baseado em uma rede de proteção econômica e cultural (Hall et al., 2005), na qual a experiência com o entorno local seja tão importante quanto a experiência de quem visita a região (Beeton, 2006). Na prática, a expressão é utilizada para descrever tanto processos turísticos administrados pela comunidade local quanto iniciativas conjuntas com empreendimentos públicos e privados, que gerem benefícios para os habitantes (Goodwin e Santilli, 2009; Silva, 2022).
O Turismo de Massa e o Turismo Rural de Base Comunitária apresentam-se incorporados à vida econômica do estado de Minas Gerais. Embora sob composições econômicas distintas, há espaço para se refletir sobre a participação dos diferentes atores na evolução desses tipos de turismo ao longo do tempo. As cidades históricas, a culinária regional e a beleza cênica sempre foram os elementos de destaque dentro do turismo mineiro (Silva e Machado, 2023).
4 METODOLOGIA
A pesquisa se fundamenta em ontologias das chamadas Epistemologias do Sul, da Ecologia de Saberes e do Decolonialismo. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, no campo da Pesquisa-Ação, mais especificamente da Pesquisa Engajada. Nessa perspectiva metodológica, estratégias de pesquisa em diferentes momentos da coleta, tratamento e análise dos dados são orientadas para o protagonismo, autonomia e centralidade dos atores locais como sujeitos que constroem e reconstroem saberes essenciais para as diferentes lutas emancipatórias das quais participam em territórios marcados pelo conflito ambiental. Outra orientação central na investigação é a busca pelo Não-Extrativismo de Dados nas comunidades. Pesquisas fundadas no extrativismo de informações se caracterizam pela coleta, sistematização e análise de dados tendo os atores locais como meros informantes.
Os processos de extrativismo de dados, sobretudo no contexto de Brumadinho/MG, acabam por sobrecarregar as comunidades com demandas para devolutivas de questionários e realização de entrevistas ou recebimento de equipes acadêmicas na comunidade, sem impactos mais substantivos no fortalecimento das lutas por justiça ambiental, regeneração e sustentabilidade. Os sujeitos investigadores do presente estudo participam de um grupo de pesquisa e extensão que já atua em Brumadinho antes mesmo da tragédia-crime de 2019, tendo aprofundado as relações de cooperação e co-produção de saberes com diferentes grupos em territórios vulnerabilizados do município.
5 RESULTADOS PRELIMINARES OU ESPERADOS
O Turismo de Base Comunitária não é algo novo na realidade da população localizada na zona rural de Brumadinho. No município existe um roteiro estruturado junto a casa da cultura que visa propiciar experiências de base comunitária junto aos povos quilombolas da região. Essa iniciativa existe já a alguns anos e ganhou maiores proporções e incentivo após a implementação do Catálogo Céu de Montanhas fruto de uma ação que compunha os projetos de reparação da VALE pelo rompimento da barragem B1 da Mina Córrego do Feijão.
Um dos projetos diz respeito a uma proposta de Turismo de Base Comunitária, onde o mesmo foi aprovado em 2021, e tem como nome “Veredas”, projeto orientado para desenvolver o turismo de base comunitária na zona rural da região do Vale do Paraopeba, com ênfase no município de Brumadinho. Os representantes do projeto “Veredas” em parceria com a Rede Terra têm realizado visitas as comunidades quilombolas, no intuito de orientar os moradores dos quilombos sobre a execução do projeto. No ano de 2022 foi desenvolvido um plano de execução para o início das atividades de turismo no território, e as comunidades tiveram autonomia para criar o percurso e a programação que ocorre dentro do território quilombola.
Nossa atuação dentro desse contexto do TBC se deu através de parceria com uma das comunidades quilombolas pertencentes ao circuito, o quilombo de Ribeirão. Por meio dos projetos de pesquisa e extensão da nossa universidade, temos desenvolvido oficinas de mapeamentos participativos, elaboração de roteiros, formações e demais atividades orientadas a auxiliar a comunidade no processo de estruturação do turismo local. Vale ressaltar que todas as ações são desenvolvidas de forma coletiva, onde os atores locais assumem o protagonismo mediante as ações.
6 CONSIDERAÇÕES SOBRE CONTRIBUIÇÕES E IMPACTOS
O presente estudo buscou analisar os desafios para a promoção do Turismo de Base Comunitária na comunidade quilombola de Ribeirão em Brumadinho/MG. Para tanto, foram mobilizadas diferentes bases teóricas que problematizam o extrativismo mineral, a indústria do turismo, e a regeneração dos territórios pós tragédias-crime e as iniciativas que buscam mitigar e eliminar desigualdades, exploração econômica e concentração de poder em diferentes territórios, como o TBC.
Além dessas contribuições do estudo, pode-se desvelar em complexidade e profundidade os desafios de promoção do Turismo em contextos marcados pela intensa e extensa presença de novos atores no território em análise, Brumadinho/MG. Através do estudo, está sendo possível compreender como diferentes projetos têm buscado promover a Regeneração Territorial, desafio complexo em contextos marcados pela dependência econômica em relação à indústria extrativa e pela dominação por parte da mineração.
Mais profundos e desafiadores são os processos de Turismo de Base Comunitária na comunidade quilombola do Ribeirão, grupo da zona rural de Brumadinho sujeito historicamente à exploração do trabalho, ao racismo, segregação espacial e à convivência com passivos ambientais gerados por grupos dominantes no município. Porém, se o contexto é de racismo estrutural manifestado historicamente nesse território, a presente pesquisa também pode desvelar potencialidades e capacidades de promoção da inovação social por parte dos atores locais, em especial do povo quilombola do Ribeirão.
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